A função dos sinais de pontuação é orientar o leitor para a melhor maneira de percorrer os textos que escrevemos.
A relação entre quem fala e quem ouve é muito mais simples que a relação entre quem escreve e quem lê. Quando falamos, somos mais facilmente entendidos do que quando escrevemos, porque, junto com as palavras pronunciadas, fornecemos também entonação, ritmo, pausas, gestos. Isso tudo serve como instruções sobre como esperamos ser compreendidos. Além disso, o ouvinte também contribui para o sucesso da comunicação, pois ele emite sinais de que está ou não acompanhando nosso discurso. Isso nos dá a oportunidade de refazer ou reforçar o que estamos dizendo.
Na escrita, nada disso existe. O leitor está sozinho diante daquilo que escrevemos. Nosso texto não vem carregado das ênfases ou das sutilezas de tom que fazem parte da fala. Ele se materializa apenas como letras e sinais que distribuímos organizadamente no papel, na esperança de que o leitor possa compreender o que pensamos ter escrito.
O texto é uma estrada a percorrer. Imagine que você terá de sinalizar uma estrada novinha, ainda sem uso. Imagine que ela é apneas uma extensa faixa de asfalto liso, sem manchas ou buracos, que vai de um ponto a outro do estado. Quando for inaugurada, no entando, deverá estar completa, com as faixas pintadas e com todos os sinais e placas necessários espalhados ao longo da via. A tarefa que lhe deram é vital para o motorista que vai passar por ali, pois é através da sinalização da estrada que o motorista será avisado de tudo aquilo que ele precisa saber para fazer uma viagem segura. Tudo o que não for previsível para o motorista deverá ser assinalado ao longo do trajeto: estreitamento de faixas, desnível entre pista e acostamento, curvas, trechos sem visibilidade para ultrapassagem, velocidade máxima, etc. Quanto mais bem sinalizada a estrada, mais segura será a viagem.
O texto, exatamente como a estrada, é uma linha que deve ser percorrida de um ponto a outro. Quanto mais bem pontuada uma frase ou um texto, maiores as chances de que a mensagem seja entendida pelo leitor tal como o autor a idealizou. Aqui entram os sinais de pontuação, os quais equivalem às placas e aos sinais da rodovia e, como estes, devem ser usados também para assinalar tudo o que for inesperado ou imprevisível na estrutura normal de nossa língua. A pontuação assinala modificações introduzidas nos padrões normais da frase; por causa disso, jamais um sinal de pontuação poderá interromper um vínculo sintático essencial. Jamais haverá pontuação separando o sujeito do verbo, o verbo de seus complementos, o termo regente do termo regido, o termo modificado do seu modificador.
Jamais devemos esquecer, portanto, que
os sinais que colocamos em nossos textos estão ali para ser vistos pelos olhos do leitor, para avisá-lo de alguma coisa. Se os colocarmos nos lugares adequados, vamos ajudar o destinatário a processar confortavelmente nossa mensagem e a extrair dela o significado que tínhamos em mente ao escrevê-la. É por isso que só pontuam bem aqueles que conseguem se colocar na mente de quem vai lê-los, isto é, aqueles que conseguem ler seu próprio texto com os olhos de outrem para se antecipar a suas possíveis dificuldades e hesitações.